O capítulo 2 de Neemias é muito mais que um relato histórico. Nele vamos ver como Deus moveu o seu povo em fé e amor. Isso trouxe coragem, ousadia e um espírito pronto para reconstruir os muros de Jerusalém com base na Palavra de Deus.
Era chegado o tempo da reconstrução. Os muros da cidade ainda estavam arrasados desde a conquista da Babilônia. Ou seja, há mais de 70 anos.
Naquele tempo, isso representava total desproteção da cidade, com riscos de ser novamente invadida e atacada pelos inimigos.
Mas como a boa mão de Deus estava sobre o seu povo, em todo esse tempo eles foram preservados e puderem prosseguir mesmo diante da terra devastada.
Não era o plano de Deus que a terra de Jerusalém ficasse fisicamente desprotegida. Pois permanecia de pé a Sua vontade de constituir um povo exclusivo, nação santa e testemunha aparente do poder de Deus para outras nações (Êx 19.5-6).
Assim, Deus separou Neemias como um líder daquele tempo, que encorajaria o povo na empreitada da reconstrução dos muros da cidade.
A Tristeza Profunda de Neemias
Era o mês de Nisã, do vigésimo ano do reinado de Artaxerxes I. Se você observar o estudo do capítulo 1, verá que a referência é do mesmo ano apenas 4 meses depois que as notícias sobre Jerusalém chegaram a Neemias. Aqui, no capítulo 2, estamos por volta do mês de Abril de 445 a.C.
Neemias, como copeiro do rei, estava diante dele exercendo seu trabalho. A sua função era de experimentar todo vinho antes que o rei tomasse, para certificar-se de que não estava envenenado.
Esse cargo exigia que Neemias tivesse sempre um comportamento positivo, encorajador e de confiança, para que transmitisse segurança ao rei. Porém, no contexto deste capítulo seu semblante é outro. O copeiro não consegue esconder sua tristeza e o rei percebe.
Isso abre espaço para que o rei o indague sobre o que estaria causando tamanho descontentamento. Então, mesmo com medo, Neemias confidencia ao rei o que o angustia.
O motivo era a notícia que recebera há 4 meses de seu irmão Hanani, sobre a destruição dos muros e portões da cidade de Jerusalém. Não era muito legal ele abrir isso para o rei Artaxerxes I, pois poderia ser considerado deslealdade.
Isso, porque este mesmo rei, proibiu os judeus de continuarem a reconstrução dos muros, até que ordenasse o contrário (Ed 4.7-22).
Confira em Esdras 4: As Oposições Contra a Reconstrução do Templo e o Povo Judeu
Neemias Pede para Reconstruir Jerusalém
Mesmo assim, ele não segura seu lamento e explica a sua tristeza. Ele mostra lealdade ao rei (“que o rei viva para sempre”) e não faz nenhum pedido inicialmente. O fato de dizer “onde estão sepultados os meus pais” poderia de certa forma conquistar a simpatia do rei.
Com a permissão de Artaxerxes I, ele faz o pedido para ir à Jerusalém. Mas o rei pede apenas que dê uma data para retorno. Sobre isso, podemos observar que:
Neemias 5.14 e 13.6 sugerem que ele foi nomeado governador de Jerusalém e ficou lá por volta de 12 anos.
O copeiro abdica de seu cargo e pede ao rei por autoridade específica, a partir de cartas do rei. Assim, ele poderia mostrar aos governadores do outro lado do Eufrates (em Samaria) que sua ida à Jerusalém era sob o aval do rei.
Ele precisava fazer isso, pois provavelmente os governadores eram os mesmos que em Esdras 4 persuadiram o rei Artaxerxes I a interromper a reconstrução dos muros.
Neemias vai além e solicita ao rei que envie cartas para o guarda das florestas do rei, Asafe, e pede por madeira das florestas para projetos específicos:
- Para as vigas dos portões da cidadela do templo – era uma defesa especial do templo;
- Para as muralhas da cidade – madeira destinada especialmente para os portões;
- Para reparar sua própria casa – provavelmente foi passada por herança da sua família.
O rei concordou em conceder tudo que Neemias pediu. Isso se confirma com a declaração de que a mão bondosa de Deus estava sobre ele. Essa expressão recorrente em Esdras e Neemias reconhece que Deus reservava bençãos para o seu povo. Assim, a situação ruim dos judeus não era irreversível, porque Deus podia mudar todas as coisas.
Neemias Vai Até Jerusalém
Para completar a autoridade de Neemias para falar com os governadores, ele teve a companhia de oficiais do exército e cavaleiros. Isso foi também para evitar que ele fosse perturbado na viagem.
Podemos ver o contraste disso com o que aconteceu em Esdras 8.22, quando Esdras e o povo do exílio voltou para Jerusalém sem proteção humana, mas confiando somente na proteção de Deus.
Podemos dizer que Esdras ou Neemias estavam errados? Não! Nos dois contextos era a boa mão de Deus que estava protegendo o povo, de forma soberana.
Ao chegar primeiro em Samaria (a região do outro lado do Eufrates), Neemias encontrou o governador Sambalate. Também encontrou o servo Tobias, que apesar de ter nome judeu, como Amonita ele era parte dos inimigos históricos de Israel (2 Sm 10.1-11).
Estes samaritanos não ficaram felizes em saber que o rei estava permitindo a reconstrução dos muros e fazendo o bem para o povo judeu. Eles queriam assegurar sua autoridade sobre Judá e isso seria uma ameaça, pois pensavam que enfraqueceria Samaria.
Após encontrá-los, Neemias chegou em Jerusalém em 445 a.C., 13 anos depois da chegada de Esdras.
Neemias Inspeciona os Muros Antes de Reconstruir
Quando chegou na cidade do Senhor, ele esperou durante 3 dias antes de qualquer ação. Esdras também fez isso, ao descansar 3 dias após a chegada (Ed 8.32).
Passado o período, saiu à noite junto com poucos homens para inspecionar os muros. A missão foi em segredo para que potenciais inimigos e até mesmo o povo não soubessem de seus planos ainda. Afinal, ele não tinha contado a ninguém (Ne 2.16).
Os muros estavam arruinados e os portões destruídos pelo fogo de tal forma que quando seguiu até o tanque do rei (provavelmente o tanque de Siloé), teve que desmontar do seu animal e seguir a pé.
Neemias passou por outras áreas com os muros, mas provavelmente não todas. E voltou para sua casa.
Venham! Vamos Reconstruir as Muralhas!
Depois da inspeção ele decide contar seus planos aos líderes judeus e convoca todos para a reconstrução dos muros. Ele também contou como a mão de Deus estava sobre ele até aquele momento.
Novamente há o reconhecimento (como ocorre desde o livro de Esdras) de que o Senhor teria proteção e bençãos reservadas ao seu povo e a condição atual deles não era irreversível diante do poder de Deus.
Após ser convocado pelo próprio Senhor, ele convoca outros para ajudarem a reconstruir, entendendo que essa missão não seria concluída sozinho.
Todos concordaram em se preparar e começar a obra sem demora! Mas o governador Sambalate, o servo Tobias e o árabe Gesém ficaram sabendo disso. E começaram a espalhar que os judeus estavam planejando uma rebelião contra Artaxerxes I. Essa era uma acusação séria, a qual o rei já havia acreditado antes (Ed 4.12-13, 19-22).
Porém, a isso Neemias respondeu: “o Deus dos céus fará com que sejamos bem-sucedidos” (v.20). Ele sabe que o rei está ao seu lado, mas atribui a autoridade máxima a Deus.
Neemias faz distinção do povo de Deus e os seus opositores e entende que não faz sentido incluí-los na obra ou entrar em discussão com eles. Eles não teriam pertencimento e não prestariam culto em Jerusalém.
O Deus dos Céus Pode Reconstruir o que Está Quebrado
Ao olhar para essa história real de Neemias, somos levados a confiar que não importa a situação que o povo de Deus esteja passando. Ele vai movimentar pessoas e circunstâncias para que os planos de restauração dEle sejam feitos.
Deus pode restaurar e fazer novas todas as coisas! As grandes reconstruções começam com oração, humildade e uma visão clara dada por Deus.
Neemias não foi movido apenas pela emoção de ver sua cidade arrasada, mas pela convicção de que a boa mão do Senhor estava sobre ele.
Sua ousadia diante do rei, sua sabedoria em pedir os recursos certos, e sua cautela ao inspecionar os muros mostram que fé e estratégia andam juntas quando estamos debaixo da vontade de Deus.
Podemos olhar também para áreas da nova vida que parecem estar em ruínas: sonhos interrompidos, relacionamentos quebrados, ministérios que esfriaram.
Mas a pergunta que fica é: o que fazer diante disso? Como reconstruir? A resposta está exatamente aqui!
Antes de agir, ore. Antes de falar, observe. Ao decidir, dependa totalmente do Senhor. A reconstrução que glorifica a Deus nasce de um coração alinhado com a Sua vontade, e prossegue sustentada pela Sua mão bondosa.
Apenas se entregue à Ele e confie que Ele está cuidando de tudo. Não fuja dEle, corra imediatamente para Ele.
Que você, assim como Neemias, tenha coragem para reconstruir, sabedoria para agir e fé para confiar que Deus está no controle de cada detalhe do processo.
Deus te abençoe!
Fonte: Biblia online
