
Em Esdras 4 vemos um cenário detalhado da oposição que os judeus sofriam em seus projetos de reconstruir o templo em Jerusalém. No capítulo 3, verso 3, vimos que os judeus estavam sob o terror dos povos de outras terras.
O cenário do capítulo de hoje é diferente daquelas comemorações realizadas no capítulo 3.
Você já se encontrou em grandes dificuldades impostas por algo ou alguém e tendo que lutar contra isso para seguir os planos de Deus? Nesses momentos você conseguiu discernir de fato qual era a vontade de Deus? Parar ou continuar agindo? Ceder, atacar, seguir em frente?
O povo judeu tinha motivos para se entregar ao sofrimento, mesmo depois de serem libertos do cativeiro babilônico. Os vendavais da vida não passaram, mas vamos entender sobre como estes opositores se formaram e como os judeus passaram pelas dificuldades, conforme mostra Esdras 4.
A FORMAÇÃO DOS INIMIGOS DE JUDÁ E BENJAMIM
Para entendermos o contexto apresentado em Esdras 4, vamos abrir um parêntese e ver sobre a formação desses povos opositores. Para isso, precisamos voltar em 2 Reis 17.
Neste contexto, reinava Oséias (filho de Elá) em Israel. Ele fez o que era mau aos olhos do Senhor, porém, não tanto quanto os reis anteriores. Na época, reinava também sobre a Assíria o rei Salmaneser.
Os dois reis fizeram guerras de modo que Oséias se tornou servo e pagava tributos à Assíria. Porém, depois de um tempo Oséias conspirou contra o rei da Assíria e não mais pagava impostos.
Quando descobriu isso, Salmaneser prendeu Oséias e o lançou no cárcere.
A partir disso, houve a queda de Samaria e de todo o reino de Israel, e muitos foram levados em cativeiro para a Assíria. A causa maior disso é porque os filhos de Israel pecaram contra o Senhor e se curvaram para outros deuses.
Com o reino de Israel sendo despovoado, os reis da Assíria fizeram processos de importação de diferentes povos para essa região.
Importação de povos para Israel, pelos reis da Assíria
Após um tempo da queda de Israel, o rei Esar-Hadom, filho de Senaqueribe, assumiu o trono e levou povos para a Assíria.
“O rei da Assíria trouxe gente da Babilônia, de Cuta, de Ava, de Hamate e de Sefarvaim e os fez morar nas cidades de Samaria, em lugar dos filhos de Israel. Tomaram posse de Samaria e habitaram nas suas cidades.” (2 Reis 17.24)
Isso causou problemas na adoração, pois esses povos se misturaram com o povo original que não foi levado ao cativeiro, se puseram em casamento misto e não temiam ao Senhor. Por isso, Deus mandou leões para o meio deles, e alguns do povo morreram.
Então o povo que ainda procurava seguir ao Senhor fez um pedido:
“Por isso disseram ao rei da Assíria:
— Os povos que o senhor, ó rei, transportou e fez habitar nas cidades de Samaria não sabem a maneira de servir o deus daquela terra e por isso ele mandou leões para o meio deles. Os leões estão matando aquelas pessoas, porque elas não sabem como servir o deus daquela terra.
Então o rei da Assíria mandou dizer:
— Levem para lá um dos sacerdotes que vocês trouxeram de lá. Que ele vá, fique morando lá, e lhes ensine a maneira de servir o deus daquela terra.
Assim um dos sacerdotes que havia sido levado de Samaria foi e ficou morando em Betel. E lhes ensinava como deviam temer o Senhor.” (2 Reis 17.26-28)
O rei Esar-Hadom era pai de Assurbanipal (Osnapar), mencionado em Esdras 4.10 como um rei que também levou povos para a região da Samaria e outros lugares deste lado do Eufrates.
Portanto, esse povo formado ao longo do tempo dizia adorar ao mesmo Deus dos judeus (Esdras 4.2), mas tinham crenças e práticas que não harmonizavam com isso.
O povo samaritano
E assim foi formado o povo samaritano, com sua vida de adoração própria, como bem entendiam:
“Porém cada nação fez ainda os seus próprios deuses nas cidades em que morava, e os puseram nos santuários dos lugares altos que os samaritanos tinham feito.
Os da Babilônia fizeram Sucote-Benote; os de Cuta fizeram Nergal; os de Hamate fizeram Asima;os aveus fizeram Nibaz e Tartaque; e os sefarvitas queimavam seus filhos a Adrameleque e a Anameleque, deuses de Sefarvaim.
Mas adoravam também o Senhor. Constituíram como sacerdotes dos lugares altos homens tirados do meio do povo, os quais oficiavam a favor deles nos santuários dos altos. E assim eles adoravam o Senhor e, ao mesmo tempo, serviam os seus próprios deuses, segundo o costume das nações do meio das quais tinham sido trazidos.
Até o dia de hoje fazem segundo os antigos costumes. Não temem o Senhor, não fazem segundo os seus estatutos e juízos, nem segundo a lei e o mandamento que o Senhor ordenou aos filhos de Jacó, a quem deu o nome de Israel.” (2 Reis 17.29-34)
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CRONOLOGIA DOS REIS DA PÉRSIA MENCIONADOS EM ESDRAS 4
Depois de compreender a formação dos povos inimigos que, em diferentes tempos e maneiras, se opuseram ao povo judeu (como retratado no capítulo 4), é essencial analisar a cronologia dos reis da Pérsia a partir da libertação dos judeus do cativeiro babilônico. Isso nos ajudará a entender com mais clareza quando ocorreram os episódios de oposição mencionados.
Rei Ciro, o Grande
Reinou de 559 a.C. a 530 a.C. (Rei da Pérsia a partir de 559 a.C., conquistou a Babilônia em 539 a.C. e governou até sua morte em 530 a.C.).
Os versículos de 1 a 5 de Esdras 4 mencionam que durante o reinado de Ciro até o reinado de Dario I foram feitas oposições para impedir o término da construção do templo, em um período de 16 anos.
Rei Cambises II – 530 a.C. a 522 a.C.
Estudiosos falam de Cambises II, como filho e sucessor de Ciro, que governou por cerca de 8 anos. Mas este não é mencionado no livro de Esdras.
Rei Dario I – 522 a.C. a 486 a.C.
Foi durante seu reinado que o templo foi concluído, no seu sexto ano de reinado, por volta de 516 a.C.
Conforme menciona o versículo 24 de Esdras 4, foi até o 2º ano do rei Dario I que houve oposições aos judeus contra a reconstrução do templo em Jerusalém.
Em resumo, considerando os reinados de Ciro até Dario I,
A oposição começou em 536 a.C., que foi aproximadamente o período em que a reconstrução do templo teve início no primeiro ano após o retorno dos exilados sob o decreto de Ciro, o Grande.
A oposição durou 16 anos, interrompendo a obra.
A oposição terminou em 520 a.C., no segundo ano do reinado de Dario I, quando os profetas Ageu e Zacarias encorajaram o povo a retomar a construção (Esdras 5:1-2).
O templo foi concluído em 516 a.C., no sexto ano de Dario I (Esdras 6:15).
Rei Xerxes I (Assuero) – 486 a.C. a 465 a.C.
Era filho de Dario I, governou durante o intervalo de 58 anos entre Esdras 6 e 7.
Rei Artaxerxes I – 465 a.C. a 424 a.C.
Era filho de Xerxes I, seu reinado inclui os eventos da primeira metade do período entre o fim de Esdras e o início de Neemias, cerca de 13 anos.
OPOSIÇÃO DURANTE O REINADO DE CIRO A DARIO, DA PÉRSIA
Do versículo 1 ao 5 de Esdras 4 vemos que os povos das terras vizinhas, considerados inimigos dos judeus, ofereceram ajuda para a construção do templo.
Eles afirmaram que não tinham diferenças essenciais entre as respectivas práticas religiosas e adoravam ao mesmo Deus.
Como vimos no contexto de 2 Reis 17.26-28, eles de fato haviam aprendido com um sacerdote do Senhor enviado até eles. Mas acabaram misturando sua fé e se curvando também a outros deuses.
Por isso, os líderes judeus rejeitaram a ajuda destes povos, pois consideravam que eles estavam enganados em relação às suas práticas religiosas. Os judeus também entendiam e argumentaram que a responsabilidade de reconstrução do templo, decretada por Ciro, se aplicava apenas para aqueles que retornaram do exílio.
Além do mais, permitir que estes povos se misturassem com os judeus poderia contaminar a fé no Senhor e provavelmente eles já tinham entendido que a intenção real por trás dessa oferta de ajuda era frustrar o projeto de reconstrução.
Com a recusa dos judeus, os inimigos, também chamados de “o povo da terra”, mostrou sua verdadeira postura e em revolta, fizeram campanhas de oposição que ocasionou na paralisação da obra do templo.
Convenceram e contrataram oficiais locais a ir contra o projeto. E ainda que Ciro tivesse autoridade sobre o projeto dos judeus, a distância física do rei com Jerusalém era algo a favor dos inimigos locais.
Portanto, a paralisação da obra do templo continuou até o reinado de Dario I.
OPOSIÇÃO DURANTE O REINADO DO REI XERXES I, DA PÉRSIA
Os versículos de 6 a 23 interrompem a narrativa histórica que vinha desde Esdras 1.1 e menciona oposições do povo da terra, posteriores à reconstrução do templo.
Quando o rei Xerxes I assumiu o trono da Pérsia o templo já estava pronto há 30 anos. O povo da terra tentou influenciá-lo contra os judeus (v.6), mas não há relatos de que o rei levou isso em conta. Os detalhes da relação entre Xerxes I e o povo judeu estão no livro de Ester.
OPOSIÇÃO DURANTE O REINADO DO REI ARTAXERXES I, DA PÉRSIA
Neste período, pressupõe-se que o povo havia feito uma tentativa de reconstrução dos muros da cidade, algum tempo antes da missão iniciada e liderada por Neemias.
Entre os versículos 7 e 23, durante o governo de Esdras em Jerusalém, mais uma carta foi escrita ao rei contra os judeus.
A carta contra os judeus
Esta carta foi escrita “deste lado do Eufrates” (ou daquém do Eufrates), era a região da província persa para onde os exilados da Babilônia foram quando voltaram do exílio.
A região incluía Jerusalém, e, portanto, o domínio de outros povos deveria ter acabado quando o rei Ciro devolveu a terra aos judeus. O centro administrativo desta província estava em Samaria e por isso, os povos da terra se sentiam no direito de controlar e neste contexto, se opor aos judeus.
Na carta, os oficiais do povo da terra apresentaram suas credenciais como líderes e destacaram seus direitos na terra, como garantia imperial por causa dos antigos restabelecimentos assírios.
O teor da mensagem direcionada ao rei era uma queixa de que os judeus estavam reconstruindo e levantando os muros de Jerusalém.
Os oficiais alegaram ao rei persa que quando estas obras ficassem prontas, os judeus se rebelariam contra o rei da Pérsia e: não pagariam mais impostos, tributos ou taxas; desonrariam o rei e tomariam posse de toda a região.
Eles também alegaram que se o rei pesquisasse o histórico de Jerusalém no livro das Crônicas veria que era uma cidade rebelde, problemática para os reis e províncias. Este livro relatava as rebeliões da Assíria e da Babilônia, impérios dos quais os persas se consideravam legítimos sucessores. Portanto, aos olhos dos opositores, seria bom observar estes escritos para que a Pérsia não perdesse seu domínio.
A resposta do rei Artaxerxes I
O rei Artaxerxes I responde a Reum e Sinsai que realmente pesquisou e encontrou estas informações históricas.
Assim, foi convencido e ordenou que estes líderes fossem a Jerusalém e forçassem a parar a obra, para que os muros da cidade não fossem reconstruídos, enquanto ele não ordenasse a volta da obra.
Isso pressupõe que ele poderia mudar de ideia. Vemos em Neemias 2 que isso realmente acontece, quando no vigésimo ano do seu reinado, ele autoriza Neemias a organizar a reconstrução dos muros da cidade.
Assim, Reum e Sinsai vão a Jerusalém e pelo que parece a partir de Neemias 1.3, eles foram além do decreto do rei, pois como relatado, as muralhas de Jerusalém estavam em ruínas e os portões foram destruídos pelo fogo.
“E eles me responderam:
— Os restantes, os que sobreviveram ao exílio e se encontram lá na província, estão em grande miséria e humilhação. As muralhas de Jerusalém continuam em ruínas, e os seus portões foram destruídos pelo fogo.” (Neemias 1.3)
A PROFUNDIDADE DA PALAVRA EM ESDRAS 4
O estudo de Esdras 4 nos revela a importância de mergulharmos profundamente na Palavra de Deus.
Se lêssemos este capítulo rapidamente, sem analisar suas conexões com outros textos bíblicos, poderíamos perder detalhes essenciais sobre a cronologia dos reis e os acontecimentos históricos. Isso nos ensina que a Bíblia não deve ser lida de forma superficial, mas estudada com atenção e reverência.
Esdras 4 nos ensina que a oposição e as dificuldades fazem parte do caminho daqueles que buscam cumprir a vontade de Deus.
O povo judeu enfrentou resistência desde os primeiros passos da reconstrução do templo. Essa oposição veio de pessoas que, aparentemente, queriam ajudar, mas tinham motivações deturpadas.
Esse cenário nos lembra que nem toda oferta de ajuda é genuína, e que discernimento espiritual é essencial para seguir firmes no propósito divino.
Além disso, ao analisarmos a cronologia dos reis da Pérsia, percebemos que a obra de Deus pode ser interrompida, mas nunca impedida de ser concluída. Durante 16 anos, a reconstrução ficou paralisada, mas no tempo certo, Deus levantou profetas como Ageu e Zacarias para encorajar o povo a retomar a obra.
Isso nos mostra que, mesmo diante de aparentes derrotas, Deus continua no controle, e Seus planos sempre se cumprem.
Diante das dificuldades da vida, aprendemos com Esdras 4 que a oposição não deve nos desanimar, mas nos fortalecer na fé. Precisamos permanecer firmes, discernindo quando é hora de resistir, quando é hora de avançar e quando é hora de esperar no Senhor.
Se Deus nos chamou para algo, Ele mesmo nos sustentará até o fim.
APRENDA CONTINUAMENTE
Por isso, não deixe de buscar entendimento na Palavra. Medite nela dia e noite, pois é nela que encontramos direção, consolo e a certeza de que, apesar das aflições deste mundo, somos bem-aventurados na presença do Senhor.
Se este estudo te edificou, compartilhe com alguém próximo para que juntos possamos crescer no conhecimento e na graça de Deus. Que Ele continue te abençoando e fortalecendo!
Fonte: Biblia online